IPACE - Instituto de Pedagogia Aplicada do Ceará.
Educar é transmitir conhecimentos, instruir. Mas também é formar integralmente o ser humano, em todos os seus aspectos: biológicos, psicológicos e sociais. É construir um indivíduo na sua integridade, de forma a que possa crescer e se desenvolver possuindo os necessários valores éticos e morais para se transformar em um membro ativo, participante e transformador da sociedade na qual está inserido. É disso que tratamos neste blog, em nossas "Conversas com professores"
sexta-feira, 15 de janeiro de 2016
“AS CONFISSÕES DE SCHIMIDT". Uma comparação entre a relação de Warren Schimidt com Ndugu e um educador com seu educando.
Não se pretende aqui fazer uma análise do filme como um todo. A história é uma comédia de costumes que, no entanto, deixa ao expectador mais atento profundos questionamentos a respeito dos verdadeiros valores, daquilo que realmente conta para que, à chegada da velhice, possamos olhar para trás e constatar, com satisfação, que vivemos uma vida completa, que valeu a pena ser vivida, não por termos amealhado bens materiais, mas por termos sido um diferencial na vida de outro.
Todos nós temos bem gravados na memória um professor ou professora, seja nos primeiros anos de escola, seja em anos mais recentes. Tais lembranças podem ser positivas ou negativas dependendo da postura daquele professor. As lembranças positivas geralmente se devem ao fato do professor ou professora ter-nos ensinado a pensar por nós mesmos, isto é, a tirarmos nossas próprias conclusões das situações que nos eram apresentadas, sem imposições, sem se arvorarem de donos ou donas da verdade absoluta.
Sem se pretender professor, Warren, também sem perceber, coloca-se na posição de educador. Suas conversas com Ndugu através das cartas inicialmente levam-no a confrontar-se com suas próprias angústias e sonhos não realizados, com sua subjetividade. A partir daí Warren se sente mais livre e passa a conversar com Ndugu como se falasse para si mesmo. E é desse momento em diante que ele passa a ensinar sem perceber que está ensinando e principalmente sem assumir uma postura onipotente de portador da verdade absoluta.
O professor, para facilitar aos seus alunos uma conexão com seu lado ensinante, precisa, antes de tudo, que ele mesmo esteja conectado à sua porção aprendente.
As diversas instituições de ensino, em todos os níveis, frequentemente deixam de lado um fator primordial no processo ensino-aprendizagem que é a subjetividade, tanto de alunos como de professores, como instrumento transformador do conhecimento, o que desenvolve a hiperacomodação como modalidade de aprendizagem dos alunos.
Durante sua viagem pelo país, Warren faz uma volta às suas origens, repensa suas teorias e convicções e por causa de suas vivências e experiências à luz das teorias repensadas, seus conselhos a Ndugu não caem no vazio.
As experiências devidamente refletidas e analisadas a partir das teorias resultam em aprendizagem na prática e esta só se configura no âmbito da escola quando o professor sai da condição de alguém que não sabe o que quer, para assumir a posição do sujeito que, na sua singularidade, sabe o que quer e qual é seu lugar. Lugar este de sujeito desejante, que se confronta com seu lado aprendente e se dá o direito de não saber, para reconhecer seu saber e autorizar-se sujeito ensinante.
Através das cartas a Ndugu, Warren entra em contato com sua própria história e com seu verdadeiro EU. Conversando com o garoto como se conversasse consigo mesmo, Warren consegue articular fatores internos que até então estavam latentes e esses fatores é que o fazem olhar para as pessoas e ver além do que os olhos deixam ver. Assim ele consegue receber e dar.
Muitos professores não têm força suficiente para articular tais fatores internos e não conseguem mudar a realidade, até porque não reconhecem a necessidade de mudança e se cristalizam na posição de repassadores de informação, de detentores absolutos dos saberes para serem ensinados e esquecem de mobilizar dentro de si seus saberes próprios e únicos, adquiridos com a prática e a convivência, que o auxiliarão no difícil processo de ensino. Assim, não conseguem construir a ponte entre aquilo que sabem e seus alunos. Essa ponte é que mostrará aos alunos o prazer que o professor tem em ensinar e despertará neles o prazer de aprender.
A viagem que Warren Schimidt faz é uma tentativa de dar sentido e razão à sua vida. Porém, sem alguém para compartilhar as (re)-descobertas o objetivo não pode ser alcançado. Para Warren Ndugu passa a ser o outro necessário ao aprendizado. Warren reaprende o valor da vida através de Ndugu e no final ele descobre que fez a diferença para o pequeno garoto, mas sua descoberta maior é que Ndugu lhe ensinou muito mais.
Considerando-se o processo ensino – aprendizagem reconhece-se o professor como aquele que ensina. Porém, ensinar e aprender são duas ações que estão interligadas; não se pode pensar em uma sem considerar a outra. Quando ensina, o professor aprende, se reconstrói, se modifica. Assim, passamos a considerar o professor, tanto quanto o aluno, como sujeito de sua própria aprendizagem. Uma aprendizagem constante que perpassa toda a vida e que se torna imprescindível para o enfrentamento dos problemas e desafios da atuação docente.
O ser social é sujeito de sua própria aprendizagem, cuja base é sua história de vida, pois se constrói a partir de seus próprios desejos e de sua capacidade de criar. À medida que o sujeito se apropria do conhecimento para recriá-lo em novas aprendizagens ele se transforma e se liberta, ampliando os próprios saberes.
Fazendo parte de um todo que é a escola, requer-se do professor uma atuação esclarecida e decidida num processo de constante avaliação e aprimoramento teórico – metodológico. Estando atento à sua própria aprendizagem, poderá ele perceber mais claramente as exigências que se colocam para uma verdadeira aprendizagem por parte de seus alunos. Aprendendo constantemente, o professor estabelece seu próprio modo de ser e de se relacionar, ao mesmo tempo em que configura a sua própria identidade profissional.
terça-feira, 10 de março de 2015
A IDENTIFICAÇÃO DA FANTASIA COMO MECANISMO TRANFERENCIAL NA AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
Autor: Sergio Pedro
Pisandelli
Neuropsicopedagogo
Psicanalista
Introdução
O presente artigo tem como finalidade
destacar a importância da percepção, interpretação e análise das fantasias desenvolvidas
pelas crianças no ato de brincar, durante a etapa de avaliação diagnóstica no
consultório psicopedagógico, as quais se constituem como um dos principais mecanismos
para identificação das causas que originam as dificuldades de relacionamento
e/ou de aprendizagem. Em particular, serão com especial atenção aquelas que
surgem de forma espontânea na primeira hora de jogos, pois trazem, no seu
âmago, valiosas mensagens com potencial capacidade de revelar muitos dos
segredos guardados a sete chaves pelo inconsciente. É importante lembrar que as
informações obtidas durante os contatos iniciais entre o terapeuta e o paciente
estarão permeadas por aspectos contaminantes decorrentes da visão, do ponto de
vista dos pais, tanto nos relacionados com a queixa em si, quanto naqueles que
se supõe, sejam os agentes causadores da mesma. Estabelecer hipóteses
consistentes, nestas primeiras etapas, sem antes estabelecer um contato mais
direto com o paciente, torna-se uma atividade de risco, e, portanto devem ser evitadas.
Deve-se sim, registrar cuidadosamente todas as observações, mas sem deixar de
lado a percepção do simbolismo nas atitudes do paciente, pois será ele que
mostrará os caminhos a serem percorridos assim como suas necessidades, angústias
e conflitos.
Duas questões serão
respondidas:
· A
criança desenvolve sua fantasia livremente, como parte do jogo ou a utiliza
como forma de expressão de suas angústias e desejos reprimidos?
· Existe
um mundo fantasístico, que permite a criança elaborar seus conflitos, sem expor
explicitamente seus afetos?
O terapeuta tem como
alternativa nesta situação recorrer ao auxílio, de ferramentas desenvolvidas na
práxis psicanalítica, visto que, através de sua adequada aplicação, poderá resgatar
os registros do inconsciente, lhes permitindo aflorar, trazendo à luz,
conflitos e afetos recalcados pelo paciente.
A
fantasia – um caminho a percorrer
O longo caminho percorrido
durante o desenvolvimento dos processos e metodologias para avaliação de crianças
com problemas, (sejam eles de aprendizagem ou comportamentais), e que atualmente
são aplicados pelos diferentes profissionais especialistas em saúde mental pediátrica,
teve, basicamente, sua origem marcada no trabalho denominado “Análise de uma
fobia em um menino de cinco anos” (FREUD, 1996, vol. XV, p. 15), escrito em
1909, e posteriormente revisado em 1922. Na descrição pormenorizada das
atividades lúdicas do “Pequeno Hans”, seus diversos desenhos assim como na
descrição dos sonhos, diurnos e noturnos, o autor deixa muito bem sedimentadas as
bases estruturais sobre as quais serão desenvolvidas as técnicas da psicanálise
de crianças.
Aberastury (2008, p. 111) complementa
estes fundamentos, dizendo que [Freud] “Mais tarde descobriu que se uma criança
brinca é porque necessita elaborar situações traumáticas”.
A análise de crianças confirmou essas conclusões, mas
apesar de ser evidente que os problemas fundamentais de uma criança se
expressam nessa linguagem pré-verbal, os tratados sobre o tema seguiam
afirmando que esta – a diferença do adulto – não tinha consciência da
enfermidade nem vontade de curar-se. Minhas conclusões foram diferentes ao
aplicar a técnica do jogo. Constatei que já durante a primeira sessão – fosse
esta no início de uma análise ou simplesmente [na fase] de observação
diagnóstica – aparecia à fantasia inconsciente de enfermidade ou de cura. [...]
cheguei à conclusão de que era assim em todos os casos, corroborando a idéia
inicial de que a criança sabe que está enferma e que compreende e aceita o
tratamento. Com a técnica do jogo, [...] comprovei que a criança nos comunica,
desde a primeira hora, qual é a sua fantasia inconsciente sobre a enfermidade
ou conflito pelo qual é trazido ao tratamento e, na maior parte dos casos, sua
fantasia inconsciente de cura (ABERASTURY, 2008, p. 111 – 112).
A palavra fantasia deriva do
termo grego phantasia, que foi
incorporada pelo latim com a mesma grafia. Ela é uma peça fundamental para a
correta estruturação do psiquismo do ser humano, e particularmente da criança,
que se encontra numa fase de construção e consolidação de sua personalidade.
Segundo Jorge, (2010, p. 45) “Freud considera a fantasia que é feita pelo
sujeito conscientemente, o devaneio diurno, como tendo a mesma estrutura de
fantasia inconsciente e, mais do que isso, desempenhando a mesma função: a de
satisfazer algum desejo insatisfeito no passado”. A fantasia e o brincar, na
criança encontram-se visceralmente ligados.
Uma criança que sofre, sabe
que sofre e anseia por uma solução que o livre desse sofrimento. Mas não possui
os meios para procurá-la por si. Nunca terá
a iniciativa de procurar por conta própria um terapeuta, pela simples razão de
que isso não é possível para ela. São os pais (ou adultos que por ela
respondem) que procuram, que telefonam, marcam consulta, e levam a criança, que
no entender deles está apresentando comportamentos ou atitudes “anormais” ou
diferentes daquelas que deveria ter. Eles apresentam a queixa, relacionam os
sintomas observados e requerem o atendimento do menor para que o profissional
encontre as causas desses sintomas identificados (ou às vezes simplesmente
percebidos) na criança, e venha a livrá-los das angústias que a situação está
lhes provocando (a eles). O sujeito, o paciente neste caso, vai ao consultório
representado pelo seu sintoma, aquela situação que lhe é incompreensível e que
lhe provoca tanto sofrimento. Não é ela que apresenta sua queixa, nem descreve
seus sintomas, mas seus pais. Ainda que esse pequeno paciente tenha múltiplas e
diversas causas que originem os sintomas responsáveis pela sua dor, está
impossibilitada, como já foi dito, de procurar auxilio por conta própria. Não
conhece o caminho da libertação. Não é possível esperar dela associações
verbais, nem descrições formais de sintomas. Elas devem ser procuradas no ato
de brincar e na expressão das fantasias, mecanismos equivalentes àquele da
associação livre, que permitem mediante uma cuidadosa observação, a
identificação simbólica dos conflitos inconsciente. Neste contexto, se faz
necessário questionar essa solicitação de atendimento. Quem fala do sintoma, é “o
outro” e não o próprio sujeito. Sem dúvida que essa fala remete ao filho, mas
não é ele que expressa seus sintomas, suas angústias, seus desejos, seus
afetos. Desta forma, não é possível afirmar que essa descrição esteja
condizente com a realidade dos fatos. Não será possível, identificar as causas
de uma queixa, mediante perguntas decorrentes da aplicação de um simples questionário,
visto que elas serão dirigidas aos genitores (ou aos seus representantes
simbólicos), e deles serão as respostas, não da criança, que é verdadeiramente
quem, embora sem sabê-lo, as possui, no seu interior. Nem sequer, se alguma
pergunta for dirigida diretamente ao pequeno paciente, pois ele não saberá devolver
a resposta correta. Neste ponto é importante estabelecer e considerar a
diferença entre os sintomas na criança, atribuídos pelo discurso dos
pais e os sintomas da criança, que serão os apresentados pelo
próprio sujeito, o paciente. Esta diferenciação não tem por objetivo afirmar
que os pais não sabem o que a criança tem, ou que desconhecem a razão dos seus
problemas e sofrimento. Também não se pretende confrontar um sintoma com outro
para saber qual é o verdadeiro. O que se pretende sim é afirmar que somente
através da percepção direta do sintoma da
criança é que se viabilizará uma proposta de intervenção concretamente
focada nesse sintoma, com objetivo de eliminar suas verdadeiras causas e dessa
forma restabelecer a alegria e o equilíbrio emocional do paciente em
tratamento.
A questão que se coloca então é de como escutar essa
verdade enquanto podendo ser falada tanto pelos pais como pela criança. Como
decifrar essa verdade presente no sintoma da criança, e como escutá-la enquanto
sintoma no discurso dos pais?
O que Freud pôde demonstrar a respeito dos sintomas é que
eles possuem, tal como os sonhos, atos falhos, chistes e esquecimentos, um
sentido. Em "Inibições, sintoma e angústia" (1926), Freud nos diz que
"um sintoma é um sinal e um substituto de uma satisfação pulsional que
permaneceu em estado jacente; é uma consequência do processo de
repressão". Ele é uma formação do inconsciente que, através do processo
secundário, faz com que um desejo que não pode emergir na consciência sofra
deformação (como nos sonhos). É essa deformação que dá ao sintoma seu caráter
enigmático. Ele tem em seu fundamento um desejo inconsciente recalcado, e é em
busca desse desejo que Freud irá escutá-lo. Escutá-lo, porque é no discurso de
um sujeito que ele se apresenta e é pela via desse discurso que ele será
decifrado.
Para Freud, devido aos mecanismos de condensação e
deslocamento que atuam no processo primário, uma determinada representação, ao
ser recalcada, poderia ser substituída por uma nova representação, desde que
houvesse algum traço de conexão entre essas representações (FARIA, 1998, p.
83).
Tal percepção dar-se-á
mediante uma adequada interpretação dos insights
e das fantasias desenvolvidas nos processos lúdicos de avaliação, assim como
durante as conversas mantidas entre o profissional e o paciente, haja vista que
nem sempre este possui léxico suficientemente rico, que lhe permita expressar
suas ideias de forma clara e completa.
Um jogo, um desenho, uma
conversa, analisados e interpretados sem considerar a presença da fantasia
subjacente, serão sempre incompletos, e dificilmente permitirão identificar as verdadeiras
causas dos sintomas da criança, e dos seus afetos.
[...] as brincadeiras infantis [...] [podem] nos levar a
conhecer os significados latentes e estabelecer correlações com situações
experimentadas ou imaginadas por elas, fornecendo à criança a possibilidade de
elaborar tais situações. [...] As fantasias e os jogos de imaginação que a
criança cria ao brincar são de grande significado. Em seus jogos de
faz-de-conta, a criança representa em si o que, em uma etapa anterior
demonstrava com seus brinquedos. Nesses jogos, ela geralmente convida o
analista a desempenhar um ou mais papéis, o que proporciona a este uma enorme
riqueza de material a ser analisado. Jogos de ficção como brincar de mãe e
filha, de médico, de escolinha, de mobiliar a casa ou fazer uma viagem suscitam
inúmeras associações verbais (MELLO, p. 257, in PINTO, 2007).
Em "O poeta e o fantasiar", (“Der dichter und das phantasieren”,
FREUD, 1996, v.IX, p.133), uma pequena joia em sua obra, Freud desenvolve a
diferença entre o brincar infantil e a criação literária nos seguintes termos:
A ocupação favorita e mais intensa da criança é o
brinquedo ou os jogos. Acaso não poderiamos dizer que ao brincar toda criança
se comporta como um escritor criativo, pois cria um mundo próprio, ou melhor,
reajusta os elementos de seu mundo de uma nova forma que lhe agrade? Seria
errado supor que a criança não leva esse mundo a sério; ao contrario, leva
muito a sério a brincadeira e dispende na mesma muita emoção. A antítese de
brincar não é o que é sério, mas o que é real. Apesar de toda a emoção com que
a criança catexiza seu mundo de brinquedo, ela o distingue perfeitamente da
realidade, e gosta ligar seus objetos e situações imaginando às coisas invisíveis
e tangíveis do mundo real. Essa conexão é tudo o que diferencia o “brincar”
infantil do “fantasiar” [adulto]. [...] As fantasias das pessoas são menos
fáceis de observar do que o brincar das crianças. A criança, é verdade, brinca
sozinha ou estabelece um sistema psíquico fechado [particular] ou com outras
crianças, com vistas a um jogo, mas mesmo que não brinque em frente dos
adultos, não lhes oculta seu brinquedo. O adulto, ao contrario, envergonha-se
de suas fantasias, escondendo-as das outras pessoas. [...] O brincar da criança
é determinado por desejos: de fato, por um único desejo – que auxilia seu
desenvolvimento – o desejo de ser grande e adulto. A criança está sempre
brincando de “adulto”, imitando em seus jogos aquilo que conhece da vida dos
mais velhos. [...] As forças motivadoras das fantasias são os desejos
insatisfeitos, e toda fantasia é a realização de um desejo, uma correção da
realidade insatisfatória (FREUD, 1996, v. IX, p. 135 – 138).
Se em ambas as atividades a criança e o adulto criam um mundo de fantasia,
o qual é levado muito a sério por ambos, e no qual investem uma grande
quantidade de emoção, a diferença entre elas reside no fato de que a criança
que brinca liga os objetos e as situações imaginadas às coisas visíveis e tangíveis do mundo real, ao
passo que o escritor mantém uma separação nítida entre o mundo da fantasia e a
realidade. Essa característica da brincadeira infantil foi igualmente destacada
por Freud nos sonhos infantis, nos quais a realização de desejos está vinculada
diretamente aos desejos que permaneceram não realizados na véspera. “A
apreensão freudiana de que a fantasia está na base do brincar infantil deu
origem à utilização universal dos jogos na análise de crianças e abriu toda uma
via de compreensão psicanalítica nessa área”. (JORGE, 2010, p. 45).
A fantasia pode ser
considerada como uma forma de “ajustar” ou “corrigir” uma realidade que para o
sujeito se apresenta, de alguma forma, insatisfatória. Os desejos não
satisfeitos são como poderosas molas que impulsionam a fantasia. Para melhor
entender este conceito, pode-se considerar a atitude de uma criança que deseja
se comunicar com seu pai, ausente nesse momento. Ao perceber que essa
comunicação não será possível de forma direta, pela sua ausência, satisfaz seu
desejo, simulando uma ligação telefônica, utilizando, por exemplo, uma pequena
caixa de papelão como aparelho celular, marcando uma reunião para “mais tarde”
com o pai ausente (... quando tu voltar, tá?...). O diálogo acontece e a
fantasia corrige a realidade frustrante, satisfazendo o desejo e diminuindo a
insatisfação provocada pela ausência paterna. Freud era muito claro ao se
referir às brincadeiras infantis, ensinando que uma criança não brinca somente
para repetir situações de felicidade ou satisfatórias, mas também, e
principalmente, para elaborar aquelas que lhe foram traumáticas e dolorosas.
Nessa elaboração, os jogos e as fantasias que os acompanham, ocupam um lugar
central, já que se transformam em mecanismos de projeção dos afetos que se
encontram reprimidos no seu interior.
O brinquedo possui muitas das características dos objetos
reais, mas, pelo seu tamanho, pelo fato de que a criança exerce domínio sobre
ele, (pois o adulto outorga-lhe a qualidade de algo próprio e permitido),
transforma-se no instrumento para o domínio de situações penosas, difíceis,
traumáticas, que se engendram na relação com os objetos reais. Além disso, o
brinquedo é substituível e permite que a criança repita, à vontade, situações
prazenteiras e dolorosas que, entretanto, ela por si mesma não pode reproduzir
no mundo real. [mas tão somente através da fantasia envolvida].
Freud foi o primeiro a descrever este mecanismo psicológico
do brincar quando interpretou o brincar de uma criança de 18 meses. O garoto
fazia aparecer e desaparecer um carretel, tentando, assim, dominar a sua ansiedade
em relação ao aparecimento e desaparecimento de sua mãe, simbolizada, [neste
ato], pelo carretel e, ao mesmo tempo, jogá-la longe sem perigo de perdê-la, já
que o carretel voltava quando ele o desejava. Este brinquedo permitia ao menino
descarregar, sem risco algum, fantasias agressivas e de amor em relação à mãe,
já que era senhor absoluto da situação. Além disso, elaborava deste modo sua
angústia diante de cada despedida da mãe. Ao brincar, a criança desloca para o
exterior seus medos, angústias e problemas internos, dominando-os por meio da
ação. Repete, no brinquedo, todas as situações excessivas para seu ego fraco e
isto lhe permite, devido ao domínio sobre os objetos externos a seu alcance,
tornar ativo aquilo que sofreu passivamente, modificar um final que lhe foi
penoso, tolerar papéis e situações que seriam proibidas na vida real tanto
interna como externamente e também repetir à vontade situações prazerosas
(ABERASTURY, 2007, p. 15).
Esta situação de jogo leva implícita a fantasia da mãe que “vai embora”,
mas que “eu consigo trazer de volta”, quando e tantas vezes quanto quizer. Esse
entendimento provoca uma sensação de alívio na criança, que passa a aceitar a
partida, não como coisa irremediavelmente traumática, mas como situação
temporária, que tem a possibilidade de retornar a situação original: mamãe vai, mas volta.
Sonhar e criar fantasias são
parte indivisível do ser humano, que vive e evolui graças a elas. Brincar é
inerente à criança. Utilizar os jogos como alternativas possíveis de
comunicação com o inconsciente é um caminho certo e consistente que permite, de
forma concreta, atingir os objetivos terapêuticos pretendidos.
Não serão jogos complexos,
mecânicos ou eletrônicos que trarão a resposta, mas aqueles simples, do
cotidiano, onde o simbólico predomina. Jogos que permitam à criança desenvolver
seus afetos, criar e recriar situações, permitir que o “faz de conta”, a
fantasia, substitua a realidade. Não é a mãe que fica amarrada ao barbante,
mais o carretel que a simboliza.
Pode-se considerar como
exemplo, o método terapêutico denominado “Jogo de Areia” o qual preenche de forma completa e muito interessante todos os
requisitos necessários para que um terapeuta consiga, mediante aplicação de técnicas
lúdicas, uma avaliação e identificação adequada e consistente das causas dos
problemas apresentados por crianças com dificuldade de aprendizagem ou
relacionamento.
De acordo com Ammann (2002), “O Jogo de Areia, [...] por não solicitar
nenhum esforço especial, é altamente atraente para a maioria dos pacientes e
vem se revelando cada vez mais uma técnica de extrema eficácia tanto quanto ao
tempo de duração quanto à qualidade do tratamento psicoterápico”. A criança consegue
nestas circunstâncias se situar em um denominado “espaço livre”, onde encontra
a necessária tranquilidade para expressar, sem constrangimentos seus reais e verdadeiros
afetos.
Este espaço livre na situação terapêutica ocorre quando o
terapeuta consegue aceitar a criança plenamente, de tal maneira que também ele
participa internamente de tudo o que acontece, com a mesma intensidade que a
própria criança. Quando ela percebe que não está sozinha em seu apuro e também
nos momentos felizes, sente-se então livre e protegida para se manifestar.
Tal relação de confiança é muito importante, pois pode
eventualmente reconstruir a situação da primeira fase, a da unidade mãe-filho.
Com isso se estabelece a situação de serenidade que contém ao mesmo tempo todas
as forças necessárias para o desenvolvimento da personalidade, em seu germe
intelectual e espiritual.
É tarefa do terapeuta reconhecer essas forças e
protegê-las em seu desenvolvimento, como o guardião de um bem valioso. Como
"guardião", representa para a criança o espaço e a liberdade e, ao
mesmo tempo, os limites (KALFF in AMMANN, 2002).
Frente aos argumentos expostos, cabe concluir que a fantasia incorporada
pela criança no ato de brincar caracteriza um poderoso instrumento de
identificação dos afetos e angústias, os quais, permanecendo na profunda
imensidão do inconsciente, se refletem, no mundo real ofuscando a capacidade de
percepção e aprendizado da criança. Devemos responder afirmativamente, ao
primeiro questionamento apresentado, visto que ficou claramente evidenciado que
a criança desenvolve sim, sua fantasia livremente, não como parte inocente do
jogo, mas como forma de expressão de suas angústias e desejos reprimidos. Da
mesma forma, ficou comprovado que existe um mundo fantasístico, dentro do qual
é possível para a criança elaborar seus conflitos, de forma inconsciente, sem
necessidade de expor explicitamente seus afetos.
Cabe ao terapeuta exercer seu papel de observador apurado, extraindo da
fantasia seu verdadeiro significado, e utilizar os resultados de sua percepção,
para percorrer o labiríntico caminho desenhado, pelo paciente, na busca da
solução aos conflitos que lhe afligem. A pauta é traçada na fantasia. O
objetivo deve ser alcançado no mundo real.
REFERÊNCIAS
ABERASTURY, Arminda. Psicanálise
da criança – Teoria e técnica. Tradução: Ana Lúcia Leite de Campos. 8ª
edição. Porto Alegre: Artmed; 1982. Reimpressão 2008
ABERASTURY, Arminda. A
criança e seus jogos. Tradução: Marialzira Perestrello. 2ª edição. Porto
Alegre: Artmed; 1992. Reimpressão 2007.
AMMANN, Ruth. A terapia do
jogo de areia. Imagens que curam a alma e desenvolvem a personalidade.
Tradução: Marlon Serpa. 2ª edição. São Paulo; Paulus; 2004.
FARIA, Michele Roman.
Introdução a Psicanálise de Crianças: o lugar dos pais. São Paulo. Hacker
Editores: Cespuc: FAPESP. 1998.
FREUD, Sigmund. Obras
Psicológicas completas de Sigmund Freud: edição standard brasileira.
Comentários e notas de James Strachey, em colaboração com Anna Freud, assistido
por Alix Strachey e Alan Tyson; tradução do alemão e do inglês sob direção
geral de Jayme Salomão. 24 volumes; Rio de Janeiro; Imago; 1996.
JORGE, Marco Antônio Coutinho. Fundamentos
da psicanálise de Freud a Lacan, vol. 2: a clínica da fantasia. 6ª ed. Rio
de Janeiro; Zahar. 2010.
PINTO Manuel da Costa, Org. Livro
de Ouro da Psicanálise. 2ª Ed. / 1ª Reimpressão. Rio de Janeiro, Ediouro,
2007.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
QUEM É ESSE SUJEITO PROFESSOR?
Considerando-se
o processo de ensinar e aprender reconhece-se o professor como aquele que
ensina. Porém, ensinar e aprender são duas ações que estão interligadas; não se
pode pensar em uma sem considerar a outra. Quando ensina, o professor aprende e
se reconstrói, se modifica, numa aprendizagem constante que se torna
imprescindível para o enfrentamento dos problemas e desafios da atuação
docente. À medida que o sujeito se apropria do conhecimento para recriá-lo em
novas aprendizagens ele se transforma e se liberta, ampliando os próprios
saberes.
Fazendo parte de
um todo que é a escola, requer-se do professor uma atuação esclarecida e
decidida num processo de constante avaliação e aprimoramento teórico-metodológico.
Estando atento à sua própria aprendizagem, poderá ele perceber mais claramente
as exigências que se colocam para uma verdadeira aprendizagem por parte de seus
alunos. Aprendendo constantemente, o professor estabelece seu próprio modo de ser
e de se relacionar, ao mesmo tempo em que configura a sua própria identidade
profissional.
Nossa cultura ainda
mantém a visão do professor apenas enquanto profissional e não o percebe como sujeito
social e histórico, esquecendo que fora da instituição escolar ele possui uma
história, uma vida às vezes bastante agitada e que essa história, essas
agitações cotidianas influenciam suas relações em seu local de trabalho, tanto
com seu grupo de colegas e os demais membros da escola, como com seus alunos.
O professor é
membro de diferentes grupos e por isso está inserido em diversos contextos.
Assim, sua subjetividade traz para a prática profissional uma variada gama de
referências pessoais e familiares. A experiência como educador o transforma
como sujeito, ao mesmo tempo em que ele transforma os que o cercam, num
contínuo dar e receber.
Então, o
professor assume o papel de mediador de sua própria aprendizagem. Enfrentando a
diversidade de saberes de seu grupo, representativo de diferentes lugares
sociais, ele toma consciência da especificidade de seus próprios conhecimentos
que, por sua vez, passam por um processo de reconstrução. Frente ao outro,
através da livre expressão, o professor se reconhece como autor e como sujeito
aprendente para se constituir como sujeito ensinante.
Os sujeitos
aprendentes são sujeitos históricos, com desejos, imaginação, fantasias,
sensibilidades, movimento, vida, enfim. Pergunta-se então que sujeito é esse
professor? Que manifestações ele expressa? Que aspecto da vida ele coloca
naquilo que pratica? Se não pode expressar-se livremente, será capaz de
aprender sempre? E, sem a aprendizagem constante, será capaz de realmente
ensinar?
Para facilitar
aos seus alunos uma conexão com seu lado ensinante, o professor, precisa, antes
de tudo, que ele mesmo esteja conectado à sua porção aprendente.
A realidade tem
mostrado, contudo, que essas conexões raramente ocorrem. Isso porque, ainda
hoje, a maioria dos professores se coloca como meros repassadores de informação,
sendo o aluno considerado um mero receptor de conteúdos.
As diversas
instituições de ensino, de todos os níveis, deixam de lado um fator primordial
no contexto de ensinar e aprender que é a subjetividade, tanto de alunos como
de professores, como instrumento transformador do conhecimento.
Indivíduos
submissos, sem iniciativa e que apenas repetem o modelo que lhes é apresentado,
configuram o ideal de aluno nas escolas desde a educação infantil até as
universidades.
A impressão que
fica é a de que alunos, professores, formadores e instituições de ensino estão
presos em um círculo vicioso de acomodação. No entanto, é possível ver uma luz
no fim do túnel. Existirão sempre aqueles alunos considerados ideais pelas
escolas ou, o que podemos chamar de repetidores exitosos. Porém, há também
alunos e professores criativos que, embora repitam o modelo esperado, mantêm a
criticidade necessária para diferenciar o que querem que repitam daquilo que
eles realmente pensam.
A nova ordem
mundial coloca os professores frente a um grande desafio: quebrarem aquele
círculo vicioso ou se perderem na multidão dos que ficam para trás repetindo
modelos cada vez mais obsoletos e ultrapassados.
O que se espera,
ou o que as reformas exigirão do profissional da educação é que ele saiba
refletir sobre sua posição de ensinante que mantém a posição de aprendente. Um
profissional que, comprometido com seu fazer, não se descompromete com seu
saber deixando-o estagnar-se. Antes o amplia e o aprofunda e não se contenta
com que recebeu nos cursos de formação indo além e mais fundo, em benefício de
seu aluno e de si mesmo.
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO (Parte I)
O homem é um ser social, e desde seu nascimento é membro de um grupo, a família, que por sua vez está inserida em outros grupos mais amplos, a sociedade. Essa sociedade, como um grupo organizado de pessoas que interagem e cujas ações são direcionadas para objetivos comuns, é regida por normas e regras que tem por objetivo assegurar sua continuidade. O conjunto de normas e regras que regem um determinado grupo social constituem sua cultura, as quais, sendo transmitidas de geração a geração, garantem a continuidade do mesmo.
Ao submeter-se a essas normas e modalidades de ação o
indivíduo torna-se um sujeito social. Pain (1992) diferencia dois tipos de
socialização: o primeiro refere-se à internalização do conjunto de normas do
superego e a um armazenamento de conhecimentos; já o segundo consiste, não
apenas em internalizar, mas tornar-se consciente de cada modalidade de ação em
si, de onde se originam, como se articulam, quais suas limitações e funções.
O resultado dessa ação consciente e da transformação contínua
do conhecimento é o que configura a aprendizagem. Quando o sujeito se torna
capaz de refletir sobre suas ações ele se torna autônomo. Aí se diz que ele
aprendeu.
Não agir apenas pelas imposições do grupo social, mas
refletir sobre essas ações, ou seja, agir conscientemente e pensar
independentemente, transformando aquele conhecimento armazenado em conhecimento
dinâmico e vivo é o que a sociedade espera de cada um de seus membros.
A transmissão de cultura, que é a melhor definição de
Educação, tem funções paradoxais, ou seja, enquanto oportuniza ao indivíduo
adquirir conhecimento para que se transforme, se liberte e se torne sujeito
independente, a fim de permitir a continuidade do homem como ser histórico e
social, ao mesmo tempo procura moldar esse mesmo indivíduo dentro dos padrões
do sistema vigente no momento, visando a sobrevivência desse sistema. A
aprendizagem assume então dois aspectos: ao mesmo tempo em que possibilita a
libertação do sujeito pela conscientização, ela aliena e oprime (PAIN, 1992).
A missão da escola, como principal instrumento da transmissão
de conhecimentos, é cumprir a função primordial da educação, isto é, tornar o
sujeito capaz de agir conscientemente na transformação do conhecimento. No
entanto, a escola oprime mais do que facilita o desenvolvimento da criança, na
medida em que lhe ensina a pensar erradamente e lhe poda a espontaneidade,
submetendo-a a normas de rendimento e eficácia ou a métodos pedagógicos da
moda. Assim, ela humilha, ameaça e desencoraja mais do que liberta ou encoraja
a criança (FONSECA, 1995)
O indivíduo que não transforma o conhecimento que lhe é
transmitido, não se liberta, não se torna independente e não se reconhece como
sujeito histórico e social. Não aprende e não será capaz de transmitir o
conhecimento a outro, provocando a
ruptura do processo.
O que dizer então do indivíduo que não se enquadra nos
padrões educacionais estabelecidos pela sociedade? Esse também não aprende.
Ora, a sociedade não pode correr o risco de ter uma ruptura
no processo de transmissão de cultura. Ela, então, põe à margem esse sujeito
que não funciona, como uma peça defeituosa que precisa de reparo.
Segundo Pain (1992) o sujeito que não aprende não realiza
nenhuma das funções sociais da educação, explicitando o fracasso da mesma e, ao
mesmo tempo sucumbindo a esse fracasso.
Observa-se então a extrema importância da aprendizagem para a
sociedade e o peso da responsabilidade colocado unicamente sobre os ombros
daquele que não aprende. A sociedade como um todo e a escola como parte desta,
ainda não reconhecem totalmente sua parcela de responsabilidade.
APRENDIZAGEM E EDUCAÇÃO (Parte II)
A aprendizagem é vital para a continuidade da sociedade. Nos
primórdios da humanidade o homem vivia em pequenos grupos nômades que
sobreviviam da caça. O crescimento dos grupos obrigou-os a se fixar e
estabelecerem sítios onde o homem teve que aprender a domesticar animais e
trabalhar a terra. A sociedade passou então pela primeira revolução - a
agrícola. Com o surgimento das grandes cidades veio a segunda revolução - a
industrial e aí a aprendizagem foi direcionada para a qualificação profissional
com fins de especializar a mão de obra nos requisitos tecnológicos da nova
ordem (EGARTER, 2003).
Essa tecnologia, cada vez mais sofisticada, exige que o
conhecimento acumulado seja transmitido cada vez mais rápido, fazendo com que o
que foi aprendido ontem seja obsoleto amanhã. Nesta situação o indivíduo
precisa estar sempre se reeducando e reaprendendo.
Segundo Fonseca (2001), o século XXI será marcado por quebras
de paradigmas, principalmente no campo da educação, que influenciarão a
economia global. Citando grandes economistas futuristas como: Toffler; Nasbitt;
Peters; Davidow e Malone, o autor analisa as mudanças na economia mundial nos
próximos anos, observando as transformações pelas quais a sociedade vem
passando através das grandes revoluções - agrícola, industrial e, atualmente,
na tecnologia da informação e conclui que essas mudanças atingirão o campo dos
negócios, passando inevitavelmente pelos recursos humanos.
“A economia dita tradicional e centralizada vai ser abalada
(o verdadeiro choque do futuro) por uma inevitável revolução tecnológica, cada
vez mais centrada na capacidade de aprender e de produzir inovação e
criatividade. A propriedade intelectual e a educabilidade cognitiva das
organizações vão igualar, senão superar, no futuro, a produção de bens de
consumo” (FONSECA, 2001, p. 15).
Vive-se a era da informação e da aprendizagem acelerada. A
qualificação profissional em si e a formação centrada apenas na mão de obra não
serão suficientes, o que se sabe hoje não garante o sucesso amanhã. A sociedade
está despertando para o fato de que as competências cognitivas do indivíduo,
sua capacidade de aprender a aprender e reaprender, ou o que Fonseca (2001)
chama de educabilidade cognitiva, são mais importantes.
A educabilidade cognitiva provocará a criação de novos postos
de trabalho e a extinção de outros e os trabalhadores que se mantiverem
passivos, repetitivos e não se adaptarem serão considerados desqualificados,
ficando fora do mercado de trabalho e marginalizados. Este é um grande desfio a
ser enfrentado pelos sistemas
educativos, incluindo os sistemas de qualificação profissional, o que exigirá
quebra de paradigmas e a mudança na forma de pensar, principalmente de
políticos (FONSECA, 2001).
Estará a Escola como instituição, preparada para essas
mudanças? A educação atual não pode passar ao largo das novas exigências da
sociedade.
Novas profissões serão criadas enquanto outras desaparecerão.
Entre as que permanecerão está a de professor. Porém, o professor, como um
trabalhador qualquer estará obrigado a acompanhar as mudanças. Ele também terá
que reaprender, sob pena de ser deixado à margem. E, mais difícil ainda, o
professor deverá ser capaz de preparar seu aluno para enfrentar os novos
desafios, ensiná-lo a pensar independentemente e agir conscientemente. Ou seja,
o professor, sendo um educador, deverá cumprir aquela função primeira da
educação, qual seja a de libertar o homem. Mas para isso ele terá que se
libertar primeiro.
Referências
EGARTER,
E. J. O Caminho do Conhecimento. Psicopedagogia On-line, São Paulo.
Disponível em: <http:// www.psicopedagogia.com.br/artigos> Acesso em: 19 de março de 2013
FONSECA, V. Aprender e Reaprender: Educabilidade
Cognitiva no século 21. Série Educação, Aprendizagem e Cognição. São Paulo:
Editora Salesiana, 2001
PAIN, S. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas
de Aprendizagem. 4ª. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. P. 21 - 26
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